"Maior que o infinito é o incolor.
Eu sou meu estandarte pessoal.
Preciso do desperdício das palavras para conter-me.
O meu vazio é cheio de inerências.
Sou muito comum com pedras".
Manoel de Barros
Nascido no Pantanal, Manoel de Barros é o "grande poeta das pequenas coisas", "o lírico da ecologia", "o virtuoso do realismo mágico", como muitos críticos literários tentam definí-lo. Mas na realidade, ele é tudo isso e muito mais.
Ele mesmo se vê como um alquimista do verbo e diz que moe, disseca e recria as palavras até chegar ao caroço, ao lírico seminal de cada uma.
Mas o que tem a poesia de Manoel de Barros a ver com a criação de bijouterias?
Nada. E tudo.
Foi de um dos poemas dele que tirei o título da instalação que fiz para a coletiva da minha turma de pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Laje, em novembro de 2006."Passo por desfolhamentos", são folhas e folhas de papel japonês pintadas em técnica mista, monotipias feitas com tinta acrílica e papel amassado, como em uma impressão. As folhas de papel foram colocadas umas sobre as outras como uma cascata que se espalha pelo chão.
Pois é, esta é outra paixão minha: a pintura. Pintar, para mim, também tem sido uma experiência incrível. E também um processo de criação. Olhar para o suporte (tela ou papel) em branco e enfrentar o desafio de fazer dele uma obra de arte. O quê fazer? Como começar? Qual é a proposta? Quais as cores?
Para mim, fazer bijouterias é também uma maneira de expressar um pensamento, como na pintura e também uma forma de arte. Um outro tipo de arte, mas que, da mesma forma, passa por vários estágios e pensamentos, faz as mesmas perguntas e tem as mesmas respostas.
Assim como as monotipias que faço na pintura (o acaso e a intenção têm um resultado único), minhas bijouterias são também únicas. Podem ter uma outra cor, um outro detalhe, mas apenas uma peça de cada.
Mas como hoje é dia de falar das pinturas...
O título da exposição, "Em qualquer rota que eu faça", foi retirado de um trecho da música "2001", de autoria de Tom Zé e Rita Lee, gravada pelos Mutantes nos anos 70.
No convite que foi feito pela nossa professora e também curadora da exposição, diz que "a letra, embebida da demanda tropicalista, fala de um astronauta do futuro e sugere que, apesar da rota que façamos, do caminho que tracemos, não seremos tragados pelo buraco negro, - este sendo igual a tudo fora dos limites do possível, e, ao final, sempre estaríamos diante de uma rota qualquer entre tantas, mas uma rota, uma meta."E continua, "Em qualquer rota que eu faça" apresenta um pouco das pesquisas dos participantes do curso "O Estudo da Pintura". A meta é uma livre navegação no universo de possibilidades infinitas deste meio, onde as rotas são processos individuais, mutantes e dinâmicos. Aqui somente nos importa que, a cada momento da trajetória se forme a consciência, - dado que Arte é Pensamento-, do que se quer, do porque e de como abordar. O caminhar/construir o caminho é a rota e a meta."Até outro dia!